domingo, 9 de junho de 2019

Abandono

(Nighthawks - Edward Hopper)
Há um tempo a poesia me abandonou
Talvez na mesma esquina em que me perdi de mim
Entre ruas escuras e corações frios
Medos e mortes
e uma fraca tentativa de seguir vivendo
Sento num bar onde uma banda ruim toca
e por um instante esqueço as angústias
os espaços
os boletos
as fotos não tiradas
simbolismos tolos
e as datas que nada dizem
Moças bonitas sorriem,
mas hoje não há beleza por aqui
Estou como o Grande Poeta
vencida
como se soubesse a verdade
Há chuva por dentro e por fora
enquanto escuto o som ruim
Sem planos
nem metas
Hoje sou somente aquele homem triste
no quadro do pintor americano
que ninguém consegue notar
Tolerada por ser inofensiva sem lar e sozinha.

Cíntia Maria Silva

terça-feira, 12 de março de 2019

Todos os dias eu a olho
     não consigo encontrar uma palavra que resuma a satisfação que é amá-la
E jamais teria essa palavra para alguém que é múltipla
                   minha alegria da hora que o sol nasce
            até a hora que o sol se põe
É amor!
                                      É menina
e é mulher...
         É esposa
      outras vezes namorada.
Tão linda
     às vezes penso que é uma veela que saiu de alguma criação da J.K. Rowling.
É cuidado,
           é doçura
                              e afeto.
Prazer da cabeça aos pés
    a amo desde o primeiro dia em que eu a vi.
         Se eu pudesse mudar toda a minha vida,
            todos os meus rumos e se nesse caminho eu não pudesse encontrá-la,
beijar seus lábios,
                    amar seu corpo
e tocar sua alma,
                     eu jamais faria qualquer mudança.
              Sou grata por seu amor.
Sou grata por tê-la
Toda Graça do caminhar se resume em encontrá-la.
A amo sempre mais!
           Hoje ainda mais
  quando posso ouvir a reciprocidade nos seus lábios,
          no seu abraço
e no seu sorriso encantador.

Cíntia Maria

quinta-feira, 1 de março de 2018

Minha Montanha Russa

Eu menina criada entre mangueiras, como no poema do Drummond, esperava, como tantas crianças da minha idade, o parque de diversões. Não havia datas especiais para ir ao parque. Íamos porque a cidade anunciava o evento que movimentava todas as idades e o meu coração inocente se alegrava em descobertas. Então eu podia passar por todos os brinquedos, mas existia aquele que fazia disparar o meu desejo de aventura. Talvez não o maior, mas certamente o mais desafiador: a montanha russa. O desejo do perigo tomava conta de mim, o que hoje aprendi a chamar de pulsão, fazendo todo meu eu entrar em festa. Olhava de longe e nunca tive coragem de entrar. Eis que por sorte, vontade de Deus ou naturalidade das coisas eu cresci, tive coragens e há um tempo atrás me aventuro numa montanha russa. Pra ser mais precisa: há uns 2 anos. Entro sem medo, mesmo sem conhecer os caminhos que os trilhos irão me levar. Sento e espero pra ver o que vem. Vou sentindo o vento no rosto, olhando a paisagem. A velocidade aumentando. Então ela sobe. E durante a subida tudo é suficiente pra me fazer ter as maiores emoções, que vão do medo de morrer ao prazer extremo. A minha montanha russa me faz - literalmente - gritar e por segundos me sentir imortal. Me agarro a ela e quando acredito que vou perder os sentidos lembro que ela me protege com o seu cinto. A minha montanha russa é uma moça bonita, de olhos doces como o mel do engenho, sorriso afável e semblante sereno. Em seu um metro e setenta ela me leva tão alto que jamais pensei poder subir.  Permito que a aventura tome conta de mim, enquanto ela me acolhe em seus braços que não são mecânicos. O frio na barriga me envolve. Eis que descubro sentidos. Uma montanha russa de amor. Com cheiro de felicidade e que me convida a experenciação. Não quero que ela pare porque tudo me é inédito. A adrenalina percorre meu corpo, sinto que estou perto do céu e volto a me sentir viva. 

Você é minha montanha russa e tem me levado as melhores sensações. Todos os dias são descobertas de prazeres e sentidos. Obrigada por todo amor e tudo novo que você me faz provar. Obrigada pelo esforço em manter a manutenção dos trilhos. Obrigada pelo cuidado de sempre e tanta proteção. 


[Cíntia Maria]

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Ela não é uma obra de um escritor clássico 
Nem um sucesso da jovem guarda
Seu nome não caberia na rima de um poema
   Mas é a graça e a vida jamais encontrada num livro sagrado
Seus cabelos brilham como a noite 
      em dia que se pode ver as estrelas 
Seus olhos são doces como a primavera quando descrita por Neruda 
E seu corpo tem a forma que ninguém jamais poderá esculpir
Quando do mar as serias podem vê-la se contorcem de inveja 
No céu o anjo mais bonito sorri pra ela
Quem diria que essa mulher deitaria em meu ombro nas madrugadas depois do amor 
   e em dias tristes me faria tão feliz como uma criança descobrindo a vida
Sinto que meu corpo ganha vida quando ela me abraça  
E da igreja maior da cidade os sinos são ouvidos quando ela me beija
Ela não é a obra de um escritor clássico 
Nem aquela sinfonia tocada pela orquestra no teatro 
É muito mais que tudo isso
Ela é a amada do meu coração 
No seus gestos encontro dança  
Um dia por descuido enquanto ela passava derrubou a poesia que catei no chão. 

[Cíntia Maria]
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Enquanto a primavera se despede,
     pela janela imaginária do meu quarto, 
  Agarrada aos pés da mulher amada 
Peço a ela que não me deixe 
Já não escuto os sons
Meu corpo rejeita os alimentos 
    numa vida em que ela já não me namora
      pergunto o que será de mim
Anoto as minhas qualidades num papel amassado
Com cuidado escolho as rosas pra presentea-la 
A nossa música 
     rabisco na minha parede com giz colorido
Assim como a primavera que já me acena dando adeus 
     todos os sentidos se vão 
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
     Levanto a cabeça pra estancar o sangue que escorre do meu nariz 
Minhas pernas fracas anunciam a queda
Sou um amontoado de culpas e dores 
  Mas novamente um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Que lá fora há vida,
        luz e paz...
....mesmo quando a mulher amada rejeita meu cabelos enrolados 
   meus carinhos e cuidados
Pela janela imaginária do meu quarto vejo pássaros,
       vejo crianças correndo
E a vida simples tendo valor 
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Que as estrelas não vão cair mesmo quando a primavera e a mulher  amada já tiverem ido embora 
É só por hoje e não pra sempre. 

[Cíntia Maria]

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Nem mesmo os clássicos poetas 
        poderiam narrar as madrugadas em que feliz 
     me abraço ao abraço dela
  E agradeço a Deus 
   cantando aos orixás 
Há tanta felicidade em minha pele,
       mãos,
          pêlos,
e sorriso
Que tudo vira cor 
Porque tudo virou paz
  os escritores sem sossego
    foram parar num baú velho
E nem mesmos os anjos poderiam narrar a doçura que é
     quando ela se encaixa em meu peito e me abraça ao meio pedindo proteção
E enquanto afago os seus cabelos
   nos dedos calculo também a dimensão de tamanha sorte e
  hoje sou um compêndio de emoções que as expressões faciais não dão conta 
     E nem mesmo o mais apaixonado leitor poderia reproduzir as noites em que o amor toma forma e seus olhos me reconhecem 
Nem mesmo ela
       poderá saber ao ouvir o meu sussurro apaixonado
   por quanto tempo a esperei
 E já não invejo José e Pilar
Porque hoje nem mesmo a poesia pode me fazer mais feliz que seu semblante sereno 
     e seu beijo a me arrebatar. 

Cíntia Maria

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A mulher que espera

Há impaciência em todos os seus gestos
Ela caminha
Pede um café
Procura meus olhos,
       enquanto encaro o teto pensando que nunca serei feliz
Nem mesmo quando Ana me quiser
    ou se a Poesia voltar
Baixo a cabeça
     e verifico as horas
Ela me sorri com os seus olhos cor do mar
    e arruma os cabelos que teimam novamente em cair em seu rosto
Será que ela pensa em metafísicas
No neonazismo
Em abstrações filosóficas
Nas contas
   ou se pergunta se alguma porta aberta esqueceu?
Se ao menos soubesse o que espero
     enquanto piloto nas madrugadas com lágrimas nos olhos
  e escrevo versos num caderno velho que me impedem de cortar os braços
  ou de uma ponte me atirar
Mesmo se Ana voltar e
 a Poesia me quiser
A dor que não tem lugar físico
O egoísmo de quem sequer nota que estamos pedindo ajuda
A solidão com cheiro de poeira num quarto trancado
E a mulher que espera
  segue atravessando meu silêncio
Me oferece uma carona pra que a chuva não me molhe
Digo não precisar
Se ao menos eu soubesse o que preciso
Enquanto espero por Deus
Um chamado ou uma resposta
O medo consome meu corpo
  e a dor fere o meu coração de forma tão violenta
     numa vida sem Ana e sem Poesia
A mulher que espera parece me dizer que algo ainda vale pena
Que há sentidos e possibilidades
Mas prefiro encarar o teto que segue dizendo que não serei feliz
A impaciência que ela apresenta é semelhante a como me sinto por dentro
Mas sigo silenciosa entre suspiros,
               vazios
    e lágrimas que banham meu rosto
Numa vida em que desconheço a angústia da mulher que espera
Ana não volta e não há Poesia.

Cíntia Maria

Abandono

( Nighthawks - Edward Hopper) Há um tempo a poesia me abandonou Talvez na mesma esquina em que me perdi de mim Entre ruas escuras e c...