sexta-feira, 14 de março de 2025

Fruta Roxa

 Vejo crianças brincando no mar e lembro de um tempo em que eu não conseguia definir que cor eu tinha

    pois eu era da cor que o sol pintava 

Minhas ambições eram pequenas 

eu ouvia o silêncio 

e a música cantada pela natureza 

E olhava o mundo pela parede do meu quarto sem janelas rabiscadas por giz 

Rabiscadas de imaginações e desejos 

Hoje eu fecho os olhos e lembro da fruta roxa

Que eu não sabia o nome

Mas com a minha avó eu ia buscar no mato

Na época em que meu maior sonho não era um diploma de universidade

Nem carro de motor

Nem rodas sob os pés 

Era ter uma pequena loja de barcos e marcar no relógio a hora da garça passar pra dormir 

Como o Poeta "eu era feliz e ninguém estava morto"

E assim os dias seguiam sob o balanço do mar 

Eu não queria andar de avião 

   nem ir a Paris

Eu só queria saber se Capitu traiu Bentinho

Se amanhã iria chover 

e que horas meu pai chegaria com rosas e chocolate 

Hoje não encontro lugar pra estar só

as palavras ditas não encontram compreensão

Os ouvidos não me ouvem

e penso no por do sol laranja 

e como o barulho deixa a gente casmurro

 e pergunto porquê a poesia me abandonou 

Penso na minha avó na porta de casa 

Fixa como a cruz na porta da tabacaria que nunca visitei 

Como uma lembrança sumindo na memória 

Sentidos dissipados pela vida

Um corpo que ganha medidas na medida em que meu cachorro envelhece com olhos de amor a me olhar 

As telas cansam meus emaranhados pensamentos 

Sinto falta da tela viva nunca igual

Ando ao lado dos excessos 

que uma senhora a meia luz me pergunta de quê

Não encontro resposta 

Mas encontro ainda como os caras barbudos da banda de rock

Fé e coragem no amor

Encontro desejos que aparecem em sonhos 

Que tem voz de criança nascendo 

Que tem começo 

Que é doce como a fruta roxa colhida com a minha avó. 



Cíntia Maria Silva 

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