Com o esteto no pescoço
saindo do plantão
Ela lê meus poemas
Não estão na televisão
nem no rádio
Não sou grande poeta
Nem mesmo grande em qualquer outra coisa
A idade ainda não me pesa,
mas acordo com as dores de existir
e sigo pensando nela
No carro ela ajeita o jaleco
Seu semblante é sereno
sua agenda é cheia
Em vão procuro o celular a espera de um chamado
Desisto novamente das promessas que não fiz
Ela canta
pensando na roupa que usará logo mais
Reclama da dieta
como se houvesse em seu corpo algum defeito
Certamente se pudesse vê-la agora,
diria o quanto está linda
"Deixe de bobagem"
Ela me diria,
enquanto coloca o cabelo atrás da orelha.
Saindo do plantão
com o esteto no pescoço
Ela vê doçura em meus poemas
Que não estão na Academia
Nem serão premiados
Rolo na cama sentindo seu perfume
Enquanto em casa ela se atrapalha na cozinha
Com amor
tempera não só a comida,
mas também os meus dias
Tirando o esteto do pescoço
ela senta
e novamente lê meus poemas
Acredita na graça e acredita em mim
Não pensem que não lhe apresentei
o Pessoa, Neruda ou Drummond
Mas ela prefere os meus
Toco-lhe a alma e o coração
Levanto da cama
Rabisco novos versos
Sem esteto no pescoço
Ela lê meus poemas e sorri.
[Cíntia Maria]
quarta-feira, 17 de maio de 2017
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