Barro,
chuva,
Periferia...
Onde se escondem todos quando o
céu chora?
Portas fechadas
Ruas vazias de silêncio e cheias
de lodo
A linha do trem, que olhas as
casas,
me
acompanha.
Lá em cima, barracos ameaçam cair
O cinza se confunde com a tristeza
de quem olha pro céu
mas
não vê nada...
Se ao menos pudéssemos saber onde
Deus está.
Um Bebedouro verde olha a Chã que
sofre
Vidas vivendo em limites
Pés descalços de meninos que
correm desafiando as leis da natureza
Uma mãe que grita lá de dentro: ‘menino,
tu vai se resfriar’.
Com uma mão segura um terço, pede
benção da Virgem Maria:
Santa Mãe, rogai por nós.
A outra faz o sinal da cruz e pede
que não levem seu barraco
Mas ninguém parece ouvir
Se ao menos pudéssemos saber onde
Deus está.
Hoje o trem não passou com o seu
apito estridente
Hoje a gente velha se debruça na
janela
Espera o sol que sempre vem
Mas por dentro permanecem cinzas
Há ausência de sonhos,
de planos
e de pão...
A chuva desce o morro
E não há onde se esconder
dessa lama que nos cobre.
Cíntia Maria