Será meio tarde pra
largar tudo e escrever versos nas
ruas
Para putas e bêbados,
Com aquele cabelo moicano que nunca cortei?
A esquerda e
não a direita
Cheguei na
idade dos arrependimentos
Comecei
bloqueando pessoas
datas
lembranças,
emoções...
Daquele aceno
dado a moça na praça
Do violão que
me deram e já não me servia
De ter saído
naquele dia chuvoso
Do falso
amigo que chamei de irmão,
A esquerda e
não a direita
A vida me deu lições que demorei a entender.
Arrependimentos
me doem a alma
Me apertam e
me perguntam como teria sido se ao contrario fosse
A esquerda e
não a direita
Me arrependo de não ter sido eu
Cheguei a cogitar se os meus pais se arrependem de mim
e se outros mais se arrependem de
mim
se a Existência se arrepende de mim
Dobro a rua da solidão
Com marcas no joelhos e dores no pensamento
A esquerda e não a direita
Me arrependo de ter nascido,
Como se
minha fosse a escolha
Das frases que troquei com o moço idiota
Quando
esperávamos o trem para Lugar Nenhum
A esquerda e não a direita
Privação,
Frustração,
Castração.
Como um velho que vê os cabelos mudando de cor,
perco o brilho
e os sensações.
Vago na lama dos becos
Procurando sorrisos que não estão lá
Nem esquerda e nem direita
Sigo sozinha sem deus... nem esperança.
Cíntia Maria