quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A mulher que espera

Há impaciência em todos os seus gestos
Ela caminha
Pede um café
Procura meus olhos,
       enquanto encaro o teto pensando que nunca serei feliz
Nem mesmo quando Ana me quiser
    ou se a Poesia voltar
Baixo a cabeça
     e verifico as horas
Ela me sorri com os seus olhos cor do mar
    e arruma os cabelos que teimam novamente em cair em seu rosto
Será que ela pensa em metafísicas
No neonazismo
Em abstrações filosóficas
Nas contas
   ou se pergunta se alguma porta aberta esqueceu?
Se ao menos soubesse o que espero
     enquanto piloto nas madrugadas com lágrimas nos olhos
  e escrevo versos num caderno velho que me impedem de cortar os braços
  ou de uma ponte me atirar
Mesmo se Ana voltar e
 a Poesia me quiser
A dor que não tem lugar físico
O egoísmo de quem sequer nota que estamos pedindo ajuda
A solidão com cheiro de poeira num quarto trancado
E a mulher que espera
  segue atravessando meu silêncio
Me oferece uma carona pra que a chuva não me molhe
Digo não precisar
Se ao menos eu soubesse o que preciso
Enquanto espero por Deus
Um chamado ou uma resposta
O medo consome meu corpo
  e a dor fere o meu coração de forma tão violenta
     numa vida sem Ana e sem Poesia
A mulher que espera parece me dizer que algo ainda vale pena
Que há sentidos e possibilidades
Mas prefiro encarar o teto que segue dizendo que não serei feliz
A impaciência que ela apresenta é semelhante a como me sinto por dentro
Mas sigo silenciosa entre suspiros,
               vazios
    e lágrimas que banham meu rosto
Numa vida em que desconheço a angústia da mulher que espera
Ana não volta e não há Poesia.

Cíntia Maria

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