quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Ela não é uma obra de um escritor clássico 
Nem um sucesso da jovem guarda
Seu nome não caberia na rima de um poema
   Mas é a graça e a vida jamais encontrada num livro sagrado
Seus cabelos brilham como a noite 
      em dia que se pode ver as estrelas 
Seus olhos são doces como a primavera quando descrita por Neruda 
E seu corpo tem a forma que ninguém jamais poderá esculpir
Quando do mar as serias podem vê-la se contorcem de inveja 
No céu o anjo mais bonito sorri pra ela
Quem diria que essa mulher deitaria em meu ombro nas madrugadas depois do amor 
   e em dias tristes me faria tão feliz como uma criança descobrindo a vida
Sinto que meu corpo ganha vida quando ela me abraça  
E da igreja maior da cidade os sinos são ouvidos quando ela me beija
Ela não é a obra de um escritor clássico 
Nem aquela sinfonia tocada pela orquestra no teatro 
É muito mais que tudo isso
Ela é a amada do meu coração 
No seus gestos encontro dança  
Um dia por descuido enquanto ela passava derrubou a poesia que catei no chão. 

[Cíntia Maria]
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Enquanto a primavera se despede,
     pela janela imaginária do meu quarto, 
  Agarrada aos pés da mulher amada 
Peço a ela que não me deixe 
Já não escuto os sons
Meu corpo rejeita os alimentos 
    numa vida em que ela já não me namora
      pergunto o que será de mim
Anoto as minhas qualidades num papel amassado
Com cuidado escolho as rosas pra presentea-la 
A nossa música 
     rabisco na minha parede com giz colorido
Assim como a primavera que já me acena dando adeus 
     todos os sentidos se vão 
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
     Levanto a cabeça pra estancar o sangue que escorre do meu nariz 
Minhas pernas fracas anunciam a queda
Sou um amontoado de culpas e dores 
  Mas novamente um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Que lá fora há vida,
        luz e paz...
....mesmo quando a mulher amada rejeita meu cabelos enrolados 
   meus carinhos e cuidados
Pela janela imaginária do meu quarto vejo pássaros,
       vejo crianças correndo
E a vida simples tendo valor 
Um escritor triste na minha estante me diz que é só por hoje 
Que as estrelas não vão cair mesmo quando a primavera e a mulher  amada já tiverem ido embora 
É só por hoje e não pra sempre. 

[Cíntia Maria]

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Nem mesmo os clássicos poetas 
        poderiam narrar as madrugadas em que feliz 
     me abraço ao abraço dela
  E agradeço a Deus 
   cantando aos orixás 
Há tanta felicidade em minha pele,
       mãos,
          pêlos,
e sorriso
Que tudo vira cor 
Porque tudo virou paz
  os escritores sem sossego
    foram parar num baú velho
E nem mesmos os anjos poderiam narrar a doçura que é
     quando ela se encaixa em meu peito e me abraça ao meio pedindo proteção
E enquanto afago os seus cabelos
   nos dedos calculo também a dimensão de tamanha sorte e
  hoje sou um compêndio de emoções que as expressões faciais não dão conta 
     E nem mesmo o mais apaixonado leitor poderia reproduzir as noites em que o amor toma forma e seus olhos me reconhecem 
Nem mesmo ela
       poderá saber ao ouvir o meu sussurro apaixonado
   por quanto tempo a esperei
 E já não invejo José e Pilar
Porque hoje nem mesmo a poesia pode me fazer mais feliz que seu semblante sereno 
     e seu beijo a me arrebatar. 

Cíntia Maria

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A mulher que espera

Há impaciência em todos os seus gestos
Ela caminha
Pede um café
Procura meus olhos,
       enquanto encaro o teto pensando que nunca serei feliz
Nem mesmo quando Ana me quiser
    ou se a Poesia voltar
Baixo a cabeça
     e verifico as horas
Ela me sorri com os seus olhos cor do mar
    e arruma os cabelos que teimam novamente em cair em seu rosto
Será que ela pensa em metafísicas
No neonazismo
Em abstrações filosóficas
Nas contas
   ou se pergunta se alguma porta aberta esqueceu?
Se ao menos soubesse o que espero
     enquanto piloto nas madrugadas com lágrimas nos olhos
  e escrevo versos num caderno velho que me impedem de cortar os braços
  ou de uma ponte me atirar
Mesmo se Ana voltar e
 a Poesia me quiser
A dor que não tem lugar físico
O egoísmo de quem sequer nota que estamos pedindo ajuda
A solidão com cheiro de poeira num quarto trancado
E a mulher que espera
  segue atravessando meu silêncio
Me oferece uma carona pra que a chuva não me molhe
Digo não precisar
Se ao menos eu soubesse o que preciso
Enquanto espero por Deus
Um chamado ou uma resposta
O medo consome meu corpo
  e a dor fere o meu coração de forma tão violenta
     numa vida sem Ana e sem Poesia
A mulher que espera parece me dizer que algo ainda vale pena
Que há sentidos e possibilidades
Mas prefiro encarar o teto que segue dizendo que não serei feliz
A impaciência que ela apresenta é semelhante a como me sinto por dentro
Mas sigo silenciosa entre suspiros,
               vazios
    e lágrimas que banham meu rosto
Numa vida em que desconheço a angústia da mulher que espera
Ana não volta e não há Poesia.

Cíntia Maria

domingo, 18 de junho de 2017

Ela é o amor personificado em gestos
         afagos e carícias
 e enquanto ela dorme
o cd da Mallu toca na tv
 Tempero com amor o seu jantar
Ela é tão bonita
Será real
  ou um filme sublime que passa em minha cabeça?
Tenho sorte e sua companhia
E em vão procuro poetas que não conseguem falar a minha língua
Cheiro seus cabelos
 e sinto o reencontro com o meu próprio ser
Um espelho transparente se dissolve convertendo-se em cristal
  faz do meu coração uma grande ópera
Uma euforia doce consome meus sentidos
Quero acordá-la pra ouvi-la dizer que me ama
Mas seu rosto sereno deixa a noite graciosa
     e permito a contemplação de vê-la dormir
Ela é tão bonita
Quero protegê-la da maldade do mundo
Quero que ela possa caber em meus braços
Cheiro novamente seu cabelo
   o motivo do meu peito sorrir
E nada além do amor nos une
Ela é tão bonita
E desde que chegou o amor tomou forma e tem cheiro de flor.

[Cíntia Maria]

terça-feira, 30 de maio de 2017

É cansativo tentar manter algumas coisas
Como tentar virar quem senta de costas pro mar
   ou presentar com flores quem tem alergia
É cansativo fingir felicidade quando seu coração é triste
     e olhe que os anos ainda não resolveram pintar meu cabelo de branco
Nem há crianças correndo no jardim
como eu já esperava
Mas meu corpo já cansou de multidões
E sigo sem lar
Sem par
  sem rumo
Nas mãos me sobram dedos pra contar os verdadeiros
Nos dias me sobram horas e angústias das promessas que fiz e não cumpri
E a vida segue mostrando o quanto é cansativo conquistar a mocinha mais bonita da festa que não olha pra você
As trivialidades já não me interessam
E a impotência toma todo meu ser
Não quero as dores de existir como se delas fosse possível escapar
Já não sei mais em quem confiar quando as traições são constantes
Quem não trama?
Quem está?
É cansativo manter aquele corpo que a revista quer ver
   e fingir que tudo vai bem quando você está em pedaços
Dançar nas festas
Amparar o inimigo
Tudo é cansativo e a vida é tão breve
Mas faltam verdades
Falta luz
E tudo é tão cansativo como a leitura daquele filósofo alemão
   e o sorriso sem graça da moça sentada na praça
Não há lugar pra escapar de mim
 Sigo nesse cansaço que é viver
    e viro minha cadeira para o mar
Sabendo que só posso cuidar de mim.

Cíntia Maria

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Com o esteto no pescoço
  saindo do plantão
Ela lê meus poemas
Não estão na televisão
    nem no rádio
Não sou grande poeta
Nem mesmo grande em qualquer outra coisa
A idade ainda não me pesa,
  mas acordo com as dores de existir
       e sigo pensando nela
No carro ela ajeita o jaleco
Seu semblante é sereno
   sua agenda é cheia
Em vão procuro o celular a espera de um chamado
Desisto novamente das promessas que não fiz
Ela canta
    pensando na roupa que usará logo mais
Reclama da dieta
  como se houvesse em seu corpo algum  defeito
Certamente se pudesse vê-la agora,
     diria o quanto está linda
"Deixe de bobagem"
Ela me diria,
enquanto coloca o cabelo atrás da orelha.
Saindo do plantão
   com o esteto no pescoço
Ela vê doçura em meus poemas
Que não estão na Academia
Nem serão premiados
    Rolo na cama sentindo seu perfume
Enquanto em casa ela se atrapalha na cozinha
Com amor
     tempera não só a comida,
  mas também os meus dias
Tirando o esteto do pescoço
     ela senta
       e novamente lê meus poemas
Acredita na graça e acredita em mim
Não pensem que não lhe apresentei
    o Pessoa, Neruda ou Drummond
Mas ela prefere os meus
Toco-lhe a alma e o coração
Levanto da cama
Rabisco novos versos
      Sem esteto no pescoço
Ela lê meus poemas e sorri.

[Cíntia Maria]

terça-feira, 9 de maio de 2017

Meu meio sorriso 
       e meus olhos baixos 
Anunciam - que mais uma vez - vou dizer o quanto ela é linda
Como uma criança aprecia as estrelas no céu 
  em silêncio conto os sinais em seu rosto
Rasguei livros de poetas solitários 
     E pra falar de amor 
   abri janelas 
e cultivei jardins 
Sinto que morro se ela me faltar 
Talvez ela saiba disso quando um carinho em meu rosto diz que tudo está bem 
Os sentidos se perdem 
e docemente ela me sorri 
  quando sabe que meus lábios - mais uma vez - vão dizer o quanto ela é linda 
Meus olhos baixos 
   e meu meio sorriso 
Entregam o nervosismo do meu coração  
Talvez ela me ache aquele roqueiro exagerado da década de 80 jogado sem pai e nem mãe 
  bem na porta do seu apartamento 
Talvez ela verifique minhas gavetas procurando cicuta
 ou somente saiba que meu meio sorriso e meus olhos baixos 
    - mais uma vez -  anunciam o quanto ela é linda. 

Cíntia Maria

segunda-feira, 20 de março de 2017

Quem pintou o mar de Maceió 
Pintou também os olhos dela
Não de azul ou verde
Mas trocou o pincel 
     e coloriu de mel
O fez com o mesmo cuidado 
E preservou a doçura dos armazéns portuários 
  que inunda o ar com o cheiro de açúcar 
Causando arrepio na nuca 
E o brilho dos seus olhos 
É mais bonito que o vento que sopra as velas dos pescadores 
E enrola os cabelos das meninas 
   que olham os pássaros que dançam alegres na praia 
Troco o bairro velho de Jaraguá 
Pra então admirar 
A moça que o céu confunde 
E faz meu mundo carrossel
E se é verdade Neruda desistiria da primavera por um olhar
      eu do mar abro mão 
Se quiseres me acompanhar.  

[Cíntia Maria]

quarta-feira, 1 de março de 2017

Ela é meu Carnaval

É dia de festa 
Vejo na TV dezenas de bandas que não conheço 
Lá fora todos parecem felizes seguindo o trio.
Ela é meu Carnaval  
        que me sorri dançante com uma taça de vinho 
fazendo que eu esqueça a televisão
É dia de festa 
No meu coração há mais alegria do que há no de quem agradece a Dodô e Osmar 
Seus movimentos leves
  e seu corpo delicado
me fazem crer na existência de algum deus
Sobre seu corpo me deito com ternura 
É dia de festa 
Acarinho seus cabelos 
Olho em seus olhos
     e beijo seu sorriso 
Ela é meu Carnaval 
Quero ir ao Bonfim, à Penha ou à Capadócia
Quero agradecer ao amor que ela carrega em seus braços 
   e me devolve forma beijos 
É dia de festa
 ela é minha avenida; 
o bloco que na rua encanta foliões;
A fantasia que quero o ano todo vestir 
Ela é meu Carnaval 
E entre provocações e ciúmes
Ela sabe que a noto quando ri dos meus olhos apertados 
Me sinto afortunado 
É dia de festa
Um sambinha bom toca em meu coração quando escuto sua voz 
    e troco a multidão da ladeira 
Por essa companhia feliz 
Ela é meu Carnaval 
    e nada mais faz sentido sem sua presença 
O tempo passa numa velocidade incontrolável 
Mas hoje não sou um Bloco de um Eu sozinho 
Hoje sou uma Sapucaí em festa.  

Cíntia Maria

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Não sei o que de fato ela é minha,
   mas sei que não sou poeta
    e em vão tanto dizer que a amo como Saramago amou Pilar
Ela especialista na arte de amar e não conhece Saramago,
mas deita em meu ombro pra ouvir
     só que hoje não quero falar
Beijo seu rosto e
digo num silêncio sem palavras que ela é minha casa
Que é a responsável por não me deixar morrer
Que vivi tudo que vivi pra chegar até seus lábios
As palavras não saem e escondo meu rosto em seus cabelos para que ela não veja as lágrimas que ousam cair
Não sei o que de fato ela é minha,
  mas estou com ela essa noite
E estarei amanhã quando acordar
Seus braços ainda estarão me envolvendo
     em forma de arco
Sua perna em minha barriga
E seu rosto em meu pescoço...
Direi que amo?
Que quero chamar sua mãe de sogra?
Que pensei pra nós um filho que espero que pareça com ela?
Não direi nada!
Olho seu rosto dormindo e me pergunto: como alguém pode ser ainda mais bonita assim?
Não sei o que de fato ela é minha,
    mas a amo em atropelos
Em crises de ciúmes nos bares da rua
Em pedidos desesperados
Em poemas de Drummond e textos de Vinicius
A amo quando em sonhos ela me aparece
Ou mesmo acordada quando não sei diferenciar
Não sei o que de fato ela é minha,
     mas no seu semblante o amor se personifica
Conto os dias com ela como quem escreve num diário uma aventura com final marcado
O desespero toma conta do meu corpo
Talvez ela não me queira amanhã
Direi tranquilamente que não me faltarão mulheres,
 mas as palavras de Saramago povoam a minha mente
'Se eu não tivesse conhecido ela?'
Não se trata de quantidade
Abraço seu corpo magrinho e ofereço tudo que ela quer
Não sei o que de fato ela é minha,
   mas talvez pra ela eu seja uma descoberta
Um amparo numa tempestade
No meu ouvido ela diz que sou seu maior segredo
Não sei dizer se isso é bom ou ruim
O dia clareia e eu estou com muito sono,
   mas ela já vem dançante com os meus sapatos
'Você precisa ir'
Penso em pedir uma garantia que nos veremos em outra semana
Ela não tem!
Seu porteiro já me conhece,
      talvez o único
Viro o rosto para não cumprimentá-lo
Sento para ver o mar
Lembro dos seus cuidados e seus carinhos
Das suas lágrimas de amor
Das nossas aventuras em um parque velho no Centro da Cidade
     e o sorriso me toma ao lembrar da sua voz;
Do seu corpo;
  da sua inteligência
e em vão tento quantificar o amor
Os pronomes possessivos  não a encantam
Meu amor
             Minha paz
Meu sonho
Não sei do que chamá-la
O mar não me deu respostas
Nem aquele senhor que me analisa a meia luz
Continuo sem saber de fato o que ela é minha
Talvez a minha maior escola
  e a melhor coisa que já me aconteceu.

[Cíntia Maria]

Abandono

( Nighthawks - Edward Hopper) Há um tempo a poesia me abandonou Talvez na mesma esquina em que me perdi de mim Entre ruas escuras e c...